Procuramos nas colinas
a savana
as memórias e a saudade
a paz perdida.
A calma azul e verde
do Alentejo na primavera.
Procuramos nas colinas
a savana
as memórias e a saudade
a paz perdida.
A calma azul e verde
do Alentejo na primavera.
É dia de mastigar a ausência
sem conseguir engolir
mastigar apenas
como uma pastilha-elástica sem sabor
ou um bife demasiado mal passado.
É dia de olhar o vazio
respirar fundo
deixá-lo estar.
Feliz Dia do Pai.
A serra, o sol, o mar.
As horas que passam por nós
sem tempo, com tempo
preenchendo os dias tranquilos de reflexão
e descoberta.
Passo a passo
desenhamos o círculo,
o caminho a percorrer
em paz.
Hoje queria ser a luz e a serenidade
a eternidade de uma tarde de Verão
vista de uma qualquer janela lisboeta
telhados vermelhos quase aqui
o Tejo de velas brancas ao fundo
e (claro) a Lisnave já ali, do outro lado.
Pensar em quantos olhares se perderam
na calmaria deste rio
numa tarde de sol e de Verão
em que o vento fustiga os cabelos
e os sentidos.
Tantas vezes
os olhos pedem o vazio
a liberdade do céu aberto
para lá do mar.
Um rio-mar
um céu aberto
para vir à tona e respirar.
A questão é que
por mais que te queira esquecer
entranhaste-te nos recantos que habitámos juntos
no vento que embala as folhas
nas danças de luz e sombra
nas pequenas fissuras entre as pedras da calçada.
Lisboa terá sempre
o antes
o depois
o agora
aquela memória triste
e ao mesmo tempo infinitamente bela
dos momentos tão efémeros em que fui tua.
O sítio onde vivo é desprovido de poesia.
É povoado de passos apressados
fumos de autocarros ruidosos
passagens mal iluminadas
e cheiros acres em dias chuvosos.
Mas quando os dias começam a ficar mais compridos
e a luz mais quente
as sombras de final de tarde
jogam com a dureza funcional da cidade
criando efémeros instantes de beleza.
Vejo com os olhos do passado e do presente
olhos de outras viagens, livros e poesias
vivendo o momento
sonhando o futuro.
O tempo transcorre líquido
estranhamente imutável
tempo presente de um passado imponente e belo
cristalizado em tesouros interiores e exteriores
vivo nas cores temperadas de Maio
que abraçam docemente
o vermelho quente dos telhados e o verde intenso das colinas.
Sabes uma coisa:
pensei-te tanto que te esvaziei.
Hei-de experimentar
deambular pela cidade durante um dia inteiro.
Um dia frio de Inverno.
Daqueles em que a calçada molhada
brilha na noite mal iluminada
e em que aquela meia hora perdida
à janela do comboio
podia ser uma, duas, três horas até.
Daqueles em que o sol brilha
por entre o vento frio que me faz apressar o passo
e as nuvens se multiplicam em tons de rosa
enquanto os aviões passam
e os pássaros chilreiam no jardim.
Daqueles em que o cair da noite por entre as árvores
coreto e basílica ao fundo
é de uma beleza tão Lisboeta
que me enche daquela certeza de saber onde estou,
uma certeza tão feliz que me aquece.
É nestes dias que me reencontro com a cidade.
Porque nestes pequenos momentos
a cidade (não só o rio) permanece.