Lisboa #3

Hei-de experimentar
deambular pela cidade durante um dia inteiro.

Um dia frio de Inverno.

Daqueles em que a calçada molhada
brilha na noite mal iluminada
e em que aquela meia hora perdida
à janela do comboio
podia ser uma, duas, três horas até.

Daqueles em que o sol brilha
por entre o vento frio que me faz apressar o passo
e as nuvens se multiplicam em tons de rosa
enquanto os aviões passam
e os pássaros chilreiam no jardim.

Daqueles em que o cair da noite por entre as árvores
coreto e basílica ao fundo
é de uma beleza tão Lisboeta
que me enche daquela certeza de saber onde estou,
uma certeza tão feliz que me aquece.

É nestes dias que me reencontro com a cidade.

Porque nestes pequenos momentos
a cidade (não só o rio) permanece.

Masoala #2

À volta da fogueira
(como nos tempos antigos)
trocam-se conversas
no silêncio das ondas e das estrelas.

O fumo entranha-se nas palavras
nos cabelos
nos vestidos de Verão
que se passeiam por este nosso Inverno.

A fogueira é o final de um dia
que termina limpo de nuvens
com a promessa
de um amanhã sem chuva.

(27 de Maio, 2016)

Masoala #1

São dias e dias de chuva que agora começam
e que se prolongam por longos meses de Inverno
neste Sul onde vivo e onde me sinto em casa.

Entre a floresta, a vila e o mar
perde-se o sol em nuvens que passam
ora velozes
ora vagarosas.

O tempo passa então lento
os dias sempre iguais
húmidos da água que teima em não parar de cair
frios da ausência do sol que se esconde.

Enfim
respiro fundo
e espero com calma o fim da chuva
e do marasmo cinzento dos dias.

(17 de Maio, 2016)

Prince Gallitzen

Enfim, chegámos à ponta.
Ponta do cabo,
ponta do lago,
ponto final,
ponto de retorno
ao quente conforto
de um final de dia
nas montanhas.

Os passos seguiam-se
uns aos outros
sem hesitação,
sem perderem de vista
o branco
da neve
misturado com as folhas
caídas
por entre os sons
tímidos
da floresta desnuda no
Inverno.

Na ponta,
ponta do cabo,
ponta do lago,
ponto final do passeio
antes do retorno,
espreitámos o voo
da águia
por entre as árvores,
olhando o lago.

Seguimos as pegadas
de volta,
nossas e dos bichos
da floresta.
Longe da ponta,
o lago gelado acompanhava
os nossos passos
cansados e felizes
de regresso ao aconchego
do ponto final
do dia.

(17 de Janeiro, 2016)